Por Com. D. H. Giovanni
Dando
esses “bordejos” pelo facebook e percebendo a conversa das pessoas nas ruas da
cidade, percebi algo de fato curioso, e no mínimo interessante.
Próximo
a minha casa, na Ilha Grande, em Dores do Rio Preto, tem uma pequena pracinha,
onde senhores se sentam para jogar baralho, damas, dominó... Uma cena
tipicamente interiorana e bastante cultural em cidades pequenas. E claro, estão
sempre conversando sobre assuntos variados.
Noutro
dia estavam falando de política, uma vez que o período fomenta esse tipo de
assunto. Mas o curioso foi a fala de um dos senhores.
Sendo
simpático a oposição (politicamente) à atual administração o senhor em questão
estava comentando que iria usar com mais frequência um chapéu de palha, uma vez
que esse é um símbolo do cidadão campista, o “homem da roça”, como dizemos por
essas bandas do Caparaó. Além do fato do candidato da oposição, senhor José Clarindo
e seu vice, Sr. Sebastião de Oliveira, também são homens do campo, sendo
produtores rurais muito bem conceituados e admirados no município.
Até
ai tudo bem.
Fui
então a um salão de beleza, ambiente tipicamente feminino, frequentando por (em
sua maioria) por senhoras e senhoritas, que vão se embelezar. Estando em
período de festa na cidade, esses ambientes ficam ainda mais cheios. Mas o
interessante é que esse mesmo assunto era pauta no ambiente. Algumas senhoras
estavam combinando de usar chapéu de palha ou incentivar seus maridos, filhos,
namorados e irmãos de também usarem como ícone da manifestação política.
Ao
chegar a minha casa, vi uma postagem no Facebook onde dois amigos também
combinavam de usar o chapéu.
Fiquei
encantando com esse objeto de estudo.
O
quanto um objeto tem o poder de se tornar ícone de uma manifestação, tanto
pessoal quanto coletiva da vontade de um grupo de pessoas.
Para
REIS e MARTINS (2011) “os símbolos,
enquanto elementos de conhecimento e comunicação, são instrumentos de integração
social. São eles que tornam possível o consenso acerca do sentido do mundo
social, o que contribui para a reprodução da ordem”.
As pessoas se identificam através de linguagem e
uso de símbolos, e assim, desenvolvem a integração e a interação de seus
conceitos e ideologias.
Para Melucci (2001), as articulações das coletividades
se fazem sempre mais sustentadas no uso da linguagem e dos símbolos
antagonistas que exprimem, no campo simbólico, uma resistência aos códigos
estruturantes da lógica hegemônica. Isto por que:
“nas
sociedades com alta densidade de informação, a produção não diz respeito
somente aos recursos econômicos, mas investe em relações sociais, símbolos,
identidade, necessidades individuais. O controle sobre a produção social não
coincide com a propriedade por parte de um grupo social reconhecível, mas se move,
ao contrário, rumo aos grandes aparatos de decisão técnica e política” (Melucci, 2001; p.79).
Como fiel estudioso da Geografia, principalmente
a Geo. Humana, área que sou fortemente inclinado, fico fascinado pelo poder que
a população tem e faz muito bem através do uso de símbolos, que podem passar
por despercebidos aos olhos de quem não se atenta a isso.
Aliás, não se atentar às necessidades da
sociedade, hoje em dia, torna-se um erro terrível aos arrolados e diretamente
envolvidos com o processo político, tanto em âmbito municipal, quanto estadual
e nacional.
Parabéns a população de Dores do Rio Preto, que
sempre me surpreende com sua criatividade e dinamismo. É por isso que acredito tanto na força deste
povo, que se espelha no homem do campo, que é à base de toda nossa sociedade.
Segundo
o site da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) “Em 2009,
aproximadamente 60% dos alimentos que faziam parte da cesta alimentar distribuída
pela Conab originaram-se da agricultura familiar.” (CONAB, 2012).
Temos
que ter no poder publico pessoas de fato empenhadas em colaborar no processo de
desenvolvimento do homem do campo, da comunidade rural. E isso, para o poder
público não é uma tarefa tão difícil como aparenta ser, uma vez que vemos
poucas ações de fato que garantam o desenvolvimento do meio rural. Leis de
incentivo fiscal, acessória técnica, projetos que visem a valorização econômica
dos produtos agrícolas produzido no município, melhores estradas, acesso a
financiamentos e linhas de créditos, fomentar a criação cooperativas e
associações, enfim, dar meios que o homem do campo possa se autodesenvolver. É
óbvio que se a zona rural se desenvolve, toda a cidade se desenvolve junto.
Alguns
meios para isso tornam-se mais fáceis tento parcerias diretas com a comunidade rural
que tem muito a nos ensinar. Para tal, acreditamos que um meio que possa ser
utilizado na busca da associação entre a ciência e as comunidades, no meio
rural, por exemplo, podem-se aplicar as metodologias do DRP – Diagnóstico Rural
Participativo.
“O Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é um conjunto de técnicas
e ferramentas que permite que as comunidades façam o seu próprio diagnóstico e
a partir daí comecem a autogerenciar o
seu planejamento e desenvolvimento. Desta maneira, os participantes
poderão compartilhar experiências e analisar os seus conhecimentos, a fim de
melhorar as suas habilidades de planejamento e ação. Embora originariamente tenham
sido concebidas para zonas rurais, muitas das técnicas do DRP podem ser
utilizadas igualmente em comunidades urbanas.” (DRP, 2006)
São ações simples, para quem tem um corpo de
funcionários que estão prestando serviços à população. Afinal, esta é a finalidade
dos profissionais que trabalham no setor público.
Temos que dar mais valor a este personagem, que literalmente
coloca nossa comida na mesa e alimenta esta nação.
Portanto, sim. Que usemos nossos chapéus de palha
e tenhamos então orgulho de ser rurais. Vamos pregar o pertencimento e o amor a
nosso município.
Parabéns ao povo de Dores do Rio Preto, e parabéns
ao Sr. José Clarindo Moreira e ao Sr. Sebastião de Oliveira.
Referências:
Companhia
Nacional de Abastecimento. Disponível
em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1125&t=2>. Acesso em 08
de agosto de 2012.
MELUCCI,
Alberto. A invenção do presente: movimentos
sociais nas sociedades complexas. Petrópolis: Vozes, 2001.
VERDEJO, Miguel Expósito. DRP – Diagnostico Rural Participativo –
Guia prático. Disponível em:<http://portal.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/ater/livros/Guia_DRP_Parte_1.pdf>.
Acesso em 25 de agosto de 2012.
REIS Alcenir
Soares dos. ARTINS, Ana Amélia Lage. Movimentos
sociais, informação e mediação: uma visão dialética das negociações de sentido
e poder. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out09/Art_04.htm>. Acesso em 22
de setembro de 2012.